Radio Planeta Rei

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Uma "Princesa" no sertão da Paraíba, ainda menina aos 90 anos



Princesa nasceu no inicio do século XVIII pelas mãos da fazendeira Natália do Espírito Santo. Ela ganhou um pedaço de terra dos Garcia D`Avila de Portugal e implantou uma fazenda de gado ao redor da Lagoa da Perdição. Os D Ávila não gostavam de terras, só de ouro, por isso se desfizeram da gleba princesense, achando que ali não havia nada de futuro no subsolo. Mais tarde descobriu-se que estavam enganados, depois do surgimento de ouro em Cachoeira de Minas e, mais adiante, em Alagoa Nova, hoje Manaíra.

Edificada a fazenda, dona Natália cuidou, também, de construir uma pequena capela. Segundo a historiadora Serioja Mariano, as obras da capelinha foram iniciadas em 1858 pelo Padre Francisco Tavares Arcoverde e concluídas em 1875. A padroeira escolhida foi Nossa Senhora do Bom Conselho.

Esse padre também começou a construção das primeiras casas, sendo ajudado pelos coronéis Marcolino Pereira Lima e Manoel Rodrigues Florentino. Ao todo, construíram 50 casas. O coronel Manoel Rodrigues construiu bela casa ao lado da igreja, mas vivia na sua fazenda em Irerê.

O primeiro nome do lugar foi Perdição, em homenagem à lagoa. Depois foi rebatizada de Bom Conselho, e em 26 de novembro de 1875 foi elevado à categoria de vila, recebendo a denominação de Princesa. Esse nome foi dado pelo coronel Marcolino, que assim quis agradar o rei Dom Pedro II, pai da Princesa Isabel. Princesa conquistou o status de cidade em 18 de novembro de 1921, pela Lei nº. 540.

Até 1910 Princesa só possuía bibocas, casas pequenas e inexpressivas. Os casarões coloniais somente surgiram na década de 20, quando a cidade experimentou uma fase de expressivo progresso. Para se ter uma idéia, na década de 20 Princesa possuía luz elétrica e agência de automóveis, coisa que não existia, por exemplo, em Patos, tida e havida como cidade mais central e de maior porte.

Com a morte do coronel Marcolino, em 1905, assumiu o comando político de Princesa o filho dele, José Pereira. Para se dedicar à política, Zé Pereira abandonou o curso de Direito, no quarto ano. Ele foi o responsável pela alavancada progressista do lugar. Reinou absoluto até 1930, quando rompeu com o presidente João Pessoa, declarou guerra ao governo do Estado e transformou Princesa num território independente da Paraíba, com direito a lei própria, hino e ministério.

A guerra de 30 durou seis meses e matou mais gente do que o número de mortos registrado na campanha da FEB nos campos da Itália.

José Pereira lutava contra João Pessoa recebendo ajuda do Governo Federal e de importantes comerciantes do Recife. Enquanto a polícia de João Pessoa utilizava velhos fuzis do século 19, os homens de Zé Pereira tinham armas modernas e munição abundante. Os chamados “cabras” de Zé Pereira eram assalariados, os solteiros ganhavam menos, os casados ganhavam mais. O dinheiro vinha do Recife, desembarcava do trem em Arcoverde e de lá era transportado de jipe pelo tesoureiro do coronel, o japonês Eije Kumamoto.

Embora a justificativa para a luta fosse à defesa do território ameaçado pelas armas do Estado opressor, diz-se à boca miúda que o coronel foi usado pelos Pessoa de Queiroz e pelo próprio governo federal, para viabilizar uma intervenção na Paraíba. É que João Pessoa divergia do Governo Central, era candidato à vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas e uma intervenção viria a calhar. Os Pessoa de Queiroz, por outro lado, não gostavam do presidente da Paraíba, embora fossem primos legítimos. Eles não engoliram a nomeação de João, disseram isso ao tio Epitácio Pessoa. E ficaram mais danados da vida ainda depois que o presidente instituiu a porteira nas fronteiras do Estado, impedindo a sonegação fiscal que até então era praticada de forma escancarada.

Com a morte de João Pessoa a 26 de julho, pelas mãos do advogado João Dantas, acabou o sentido da guerra, Zé Pereira depôs as armas e fugiu de Princesa para não ser preso. Passou meses e meses fugindo, trocando de nome, passando-se por vendedor de redes, enquanto seu patrimônio era dilapidado pelos novos donos do lugar, Nominando Diniz à frente, e seus parentes eram presos e humilhados pela Polícia.

Hoje Princesa é importante cidade do sertão, possui um clima frio nos primeiros meses do ano e ameno nos restantes, graças a sua localização privilegiada no topo da Borborema.

Berço de artistas e intelectuais, são princesenses o tribuno Alcides Carneiro, o jurista José Florentino Duarte, o historiador Paulo Mariano, o bispo Dom Muniz Fernandes, os músicos Canhoto da Paraíba, Manoel Marrcos e Antonio Delano, o artista plástico Antonio Roberto Maximiano, o poetaMiguezim de Princesa e os ex-deputados Antonio Nominando Diniz e Aloysio Pereira Lima


Blog do Tião Lucena

Nenhum comentário:

Postar um comentário