Alijado
de qualquer cargo importante na direção partidária depois da sua
segunda derrota na eleição presidencial, o ex-governador paulista José
Serra entrou em rota de colisão com suas principais lideranças, em todos
os níveis, e resolveu atear fogo no ninho tucano que discute a sucessão
municipal.
Serra não quer ser o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo
porque ainda sonha em se candidatar de novo à Presidência da República
em 2014. Por isso mesmo, ele acha que o PSDB não tem nenhum nome viável
para disputar as eleições, embora o partido tenha lançado ontem quatro
pré-candidatos.
Já que sem ele os tucanos não têm candidato em condições de enfrentar
Fernando Haddad, do PT, apoiado por Lula e Dilma, Serra defende que o
partido faça uma aliança com o PSD do prefeito Gilberto Kassab e apóie o
nome do vice-governador Guilherme Afif.
Foi o que bastou para que Pedro Tobias, presidente do diretório
estadual do PSDB, perdesse a paciência com Serra. No último final de
semana, quando apresentou sua tese a Tobias, Serra ouviu em resposta que
se tratava de "uma completa bobagem".
Para não perder a viagem, o ex-governador arrumou também uma confusão
com Paulo Mathias, presidente da Juventude do PSDB paulista. O motivo é
hilário, bem ao estilo de Serra, que ficou contrariado porque uma
publicação dos jovens tucanos, que circulou com apenas 94 exemplares,
não citou o seu nome. A Juventude Tucana foi chamada pelo ex-candidato a
presidente de "um bando de pelegos".
O comando do PSDB paulista resolveu ignorar Serra e decidiu
nesta terça-feira que irá disputar as eleições com candidato próprio,
marcando as prévias para janeiro, o que contraria também o governador
Geraldo Alckmin, que prefere deixar a decisão para março. Neste ponto,
Alckmin e Serra estão de acordo: o único jeito de enfrentar a
candidatura do PT é buscar um nome de consenso capaz de unir PSDB e PSD _
e o único com este perfil é o de Guilherme Afif. Para isso, precisam se
acertar com Kassab.
O imbroglio no ninho tucano ainda é uma sequela das eleições
municipais de 2008, quando Serra apoiou a reeleição de Gilberto Kassab,
então ainda no DEM, contra o candidato oficial tucano Alckmin, que ficou
fora do segundo turno.
Como o eleitorado paulistano é historicamente dividido entre petistas
e anti-petistas, os tucanos mais comedidos sabem que com os quatro
pré-candidatos que apareceram até agora (José Anibal, Bruno Covas,
Andrea Matarazzo e Ricardo Trípoli) o partido corre novamente o risco de
ficar de fora da disputa final.
Ainda não se sabe o que Fernando Henrique Cardoso, sempre muito
atento aos problemas do governo e do PT, está achando do papel de José
Serra nesta história. O certo é que o PSDB nunca entrou numa disputa
eleitoral tão rachado como agora.
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