O Inferno é aqui?
São passados cinco meses do governo de Ricardo Coutinho. Desde que o socialista chegou ao Palácio da Redenção, as crises pipocam. Primeiro, com os policiais ávidos pelo pagamento da PEC 300. Como de costume, o "mago" não cedeu. Esculhambou José Maranhão e jogou sobre as costas do antecessor a pecha de irresponsável ao aprovar um benefício que não teria dinheiro para pagar. Com pedido de ilegalidade do movimento aprovado pela Justiça, o governador viu a polícia voltar ao trabalho e as manchetes serem trocadas.
Veio o grande grito dos prestadores de serviço dispensados. Nas emissoras de rádio, o choro e ranger de dentes foi ouvido. Mais uma vez, não adiantou o espernear dos insatisfeitos. Ricardo alegou que cumpria a recomendação do Ministério Público Estadual para enxugar uma máquina ensopada de penduricalhos eleitoreiros e deixou mais uma onda passar.
Mais recentemente e ao mesmo tempo, professores e médicos se insurgiram contra os salários pagos pelo Governo. Fizeram greve, foram às ruas, detonaram o governo em assembleias e na imprensa. Com a inflexibilidade do governador, que determinou o corte de ponto dos professores, o Palácio da Redenção foi invadido e as imagens do magistério rebelado tomaram a imprensa nacional.
O que acontece na Paraíba? Seria o inferno de Dante?
Para alguns, a mudança é infernal, de fato. O Governo tem pouca habilidade em ceder. Demora a negociar. Tenta vencer a queda de braço somente com argumentos. Quando vê a situação radicalizar, como no caso dos médicos, que deixaram os pacientes à míngua e à própria sorte no Hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa, não há outra alternativa senão abrir a carteira. Ou paga ou vê mais gente morrer.
Com os professores, o governo deu um drible, incorporou uma gratificação aos vencimentos e alardeou que pagou o piso nacional do magistério. Não é mentira. Mas, também não é verdade que os docentes tenham tido um ganho real. Neste cômputo, se encaixa a Bolsa Desempenho que não é extensiva aos aposentados.
Mas, a crise não existe apenas para os trabalhadores. Eles são uma espécie de matéria prima que passa pela amplificação dos atores políticos. E nesse script, importa menos o sofrimento real que os dividendos eleitorais advindos dele.
É por isso que na Assembleia Legislativa, toda semana o tema muda. Não quer dizer que as respostas efetivamente tenham sido dadas às categorias prejudicadas. Significa apenas que os deputados querem galgar manchetes. E tema único parece enfadonho. É preciso encontrar novos motes e abordagens para continuar sendo notícia. De preferência, detonando o Governo. Não por acaso, depende prioritariamente do andamento do Governo o panorama político municipal do ano que vem.
Mas, não é só isso. A guerra está sendo perdida pelo Governo justamente por falta de protagonismo de seus atores políticos. A bancada governista é maioria, mas não convence. Por algum "estranho" motivo, nem mesmo o líder demonstra entusiasmo na defesa da gestão do PSB. De terça a quinta-feira, o pau come no plenário. Até de doido o governador foi chamado. Somente dois aliados (Edmilson Soares e Lindolfo Pires) ensaiaram um beicinho contra a adjetivação concebida por Raniery Paulino. Isso faz com que os problemas sejam potencializados.
À boca miúda, comenta-se que a galera detentora de mandato (incluídos aí não apenas os deputados) considera o Governo um mal necessário. Ruim com ele, pior sem ele. Traduzindo: Ricardo não atende os aliados na medida que eles gostariam. Mas, consegue mantê-los perto de si porque as migalhas são melhores que nada.
Na Casa Epitácio Pessoa, é fácil verificar que os 21 aliados de Ricardo têm pudor de defender a gestão. Lá, não tem ninguém do "coletivo", ao contrário da Câmara, onde além de maioria esmagadora (16 contra 5), há uma linha de frente formada por destemidos como Bruno Farias, Raissa Lacerda, Sandra Marrocos e Bira Pereira.
O Governo não anda bem. Falta muito para ser razoável. Mas, a Paraíba não está seguindo para o inferno. Ao contrário, espera-se que Ricardo Coutinho consiga fazer a ruptura com pecados antiquíssimos como a dependência da administração estadual dos desejos da classe política e outros setores acostumados a fazer imposições vexatórias ao erário público. No caminho para o purgatório, a administração esbarra com pecados capitais e encostos que não querem perder a parasitagem que cultivam há anos. Acabar com isso dá um trabalho dos diabos e nenhuma certeza de que vai dar certo.
A ironia de tudo isso é que Ricardo, acusado na campanha de ter um pacto com o capiroto, está sendo o condutor do exorcismo.
Cláudia Carvalho é radialista e jornalista premiada, com especialização em Jornalismo Cultural. Pioneira no webjornalismo da Paraíba, é apresentadora da Rádio 101 FM e mantém o blog Parem as Máquinas!
FONTE:Parlamentopb
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