Jornalista Paulo Henrique Amorim. "Eu não sou “petista”, eu não sou filiado a nenhum partido..." Paulo Henrique Amorim.
O jornalista Paulo Henrique Amorim esteve em Salvador na Bahia neste final de semana e lá participou do #BlogProgBahia, Encontro dos Blogueiros e Mídias Independentes da Bahia. O Notícias do Sertão o entrevistou com exclusividade.
PHA é um dos Jornalista que atualmente faz questão de ser chamado de “Blogueiro Sujo”, em referência a uma critica feita pelo então candidato a presidência da republica José Serra em 2010. Ele trabalhou na revista Veja e na Rede Globo de televisão. Sendo correspondente em Nova Iorque.
Aos 17 anos esteve no olho do furacão, dentro da Rede da Legalidade que funcionava às 24h do dia, e era mantida nos porões do Palácio Piratini, Sede do Governo Estadual do Rio Grande do Sul.
Foi repórter da Rede Bandeirantes, e apresentou o Jornal da Band e o programa Fogo Cruzado. Ainda trabalhou na TV Cultura.
Agora é o apresentador do Domingo Espetacular na Rede Record que vem tomando a audiência do seu concorrente direto “O Fantastico” da rede globo. Mas é no seu blog, o Conversa Afiada, que Paulo Henrique Amorim fala o que pensa, sem restrições. Ele é um entusiasta da luta política por um país melhor.
Notícias do Sertão: De onde surgiu a alcunha de “Blogueiros Sujos?
Paulo Henrique Amorim: Na campanha presidencial de 2010. O candidato que no meu Site Conversa Afiada em chamo de “Padim Pade Cerra”. Porque ele incorporou alguns elementos de misticismo e nos identificou como “Sujos”. Existe os blogueiros limpos, que são aqueles que estão pendurados na Folha, Globo, G1, Estadão, estes são limpos e os outros são sujos, é uma divisão muito simples, muito tosca. Nós somos mídia alternativa porque nós não estamos pendurados em lugar nenhum.
NDS: Quem são esses blogueiros sujos?
PHA: Eu, Nassif, Rodrigo Vianna, Miro, Azenha e o Eduardo Guimarães. Nós somos o núcleo original do Instituto de Mídia Alternativa Barão de Itararé e não estamos pendurados em nenhum órgão de imprensa. Nós estamos pendurados na blogosfera e de lá emitimos nossos sinais cáusticos e críticos.
NDS: Como estes encontros dos #BlogsProgs poderão ajudar na democratização da mídia no Brasil?
PHA: O encontro aqui na Bahia ele é significativo e eu explico por que. O primeiro encontro nacional de blogueiros realizou-se aqui em Salvador. A assembléia legislativa da Bahia aprovou uma comissão estadual de comunicação, que é quase simultânea a do Ceará. São iniciativas pioneiras para fazer com que a sociedade civil tenha uma palavra, uma voz, para discutir os critérios da comunicação e da liberdade de expressão nos seus estados. Um dos defensores mais ardorosos dessas conferências é o professor Venício de Lima da universidade de Brasília.
Aqui a Bahia tem agora uma comissão de cultura. E agora realiza este encontro, na antevéspera. No final de semana que vem, estaremos em Brasília para fazer o segundo encontro de Blogueiros Sujos
NDS: O que você acha da exigência do diploma de Jornalista para exercer a profissão?
PHA: O maior blogueiro sujo dos Estados Unidos era sargento do exército. Digamos da esquerda. O maior blogueiro do lado da direita é um professor de arqueologia da universidade do Tennessee. Se tem uma atividade que dispensa diploma é a atividade de blogueiro. Você pode fazer blog de culinária, o blog do acarajé, blog de como olhar o farol da barra, o blog de como dançar a balalaica. Você pode fazer o blog que você quiser. Porque existe a teoria da calda longa, que é teoria pela qual, ao contrario da mídia tradicional, a audiência se concentrava em poucos grupos poderosos. E hoje existe milhões e milhões de blogs, que mesmo que tenham uma audiência baixinha, mas que toda ela somada dá maior do que havia antes.
Alias, não precisa ter diploma de jornalista para nada. Em minha opinião em lugar de estudar nessas universidades privadas, seria melhor que você tivesse estudado, por exemplo, história, português, matemática, física, astronomia e depois fazer um curso introdutório de seis meses de jornalismo. Ainda mais que a tecnologia para exercer a atividade profissional mudando tão rápido. Você sabia para fazer televisão já não presta mais para fazer internet hoje.
NDS: Em seu Blog se percebe que você é um defensor do governo Lula e agora do governo Dilma. Ao mesmo tempo vemos também criticas a ações políticas e a políticos. A demissão de Palloci fez bem a você?
PHA: Fez bem ao ambiente político brasileiro. O então ministro da casa Antônio Palloci, ele é suspeito de trafego de influência. Como se diz na Europa “exploração de prestigio”. O comportamento dele de não abrir o nome dos clientes é um comportamento altamente suspeito.
Eu não sou “petista”, eu não sou filiado a nenhum partido. Eu fiz várias criticas ao presidente Lula. Considero que tem no governo dele paginas de sobras. Uma delas foi não ter feito a Lei de Comunicação. Não ter feito uma lei de médios, como se diz na Argentina.
O que me caracteriza, se é que eu posso me caracterizar de alguma forma é o fato que eu sou uma pessoa que simpatiza com governos trabalhistas. Eu de certa maneira sou “varguista”, sou “janguista”, sou “brizolista”, sou “lulista”. E lamento profundamente que o petismo atual renegue a sua origem varguista, a sua origem janguista. São ramificações de um mesmo tronco que é uma política trabalhista que começou a ser implantada na republica velha com a chegada dos imigrantes europoeus. Eu acho que é isso o que me distingue!
NDS: Alguns juízes de primeira instância estão determinando a retirada de conteúdos de blogues. Sobrepondo o código cível a constituição que determina a liberdade de expressão. O que está sendo feito para evitar isto?
PHA: É uma experiência cultural e política nova. O judiciário brasileiro tem que se acostumar com esse produto novo que é a internet. Eu já fui vitima duas vezes de retirar o conteúdo do ar. Uma delas na semana passada. Pretendo recolocar assim que ganhar na justiça porque recorri. Eu sou vitima de 37 ações judiciais. Além de haver um processo de aprendizagem do judiciário, nós estamos vivendo um período extremamente grave, que é a tentativa de calar os Blogs pelo sistema judiciário. Ou com condenações ou com a obrigação dos blogueiros contratarem advogados e, portanto, ficarem sem dinheiro.
Nós estamos vivendo um período que é simultaneamente, o aprendizado do judiciário, o nosso próprio aprendizado de conviver com essas regras que a gente muitas vezes não conhecía e também a tentativa de censurar a blogosfera pela judicialização da resposta ao nosso trabalho.
NDS: Como você está vendo a criação da Frente Pela Democratização da Comunicação criada no Congresso Nacional?
PHA: Eu acho este trabalho esplêndido. Ele tem um papel importantíssimo, que é criar dentro do congresso nacional um espaço para discutir a liberdade de expressão. O congresso é historicamente dependente da grande mídia, do PIG (partido da imprensa golpista), Não só porque eles são também donos de órgãos da imprensa, mas também porque tem medo do PIG. E essa frente da qual o Deputado Emiliano (José) faz parte, com a Deputada Luiza Erundina pode desempenhar um papel importante que é o de levar para dentro do congresso, agora na câmara, a sociedade civil, os diversos grupos sociais de pressão, para dizer, “escuta, eu quero ter voz, eu quero ter espaço”.
NDS: Na sua maioria os Sites e Blogs menores replicam conteúdos dos mais famosos. Como você vê este fenômeno?
PHA: Este é um problema extremamente grave, que tem haver com a nossa sobrevivência. É claro que a internet abriu um espaço muito amplo para o comentário, para analise, para a manifestação da opinião. Acontece que a opinião ela não sustenta a comunicação na internet, porque a sua opinião não varia muito. Ela acaba sendo dirigida a um nicho de pessoas que concordam com você ou que odeiam você e você fica enredado em você mesmo. É uma coisa introspectiva, alto contemplativa. A saída para isso é você criar conteúdo próprio, conteúdo noticioso próprio. É trocar uma parte da opinião por notícia.
O que você pode fazer por notícia? É ser também repórter! E olhar para o mundo em uma visão pessoal, específica, sua e de forma que junte os acontecimentos com uma visão sua, mas também você produzir informação original, sua. Isso é um caminho inevitável.
Nós não vamos ser do tamanho de uma redação da Record, da Globo, mas nós temos que ter mecanismos de produção de conteúdo original.