Radio Planeta Rei

domingo, 15 de abril de 2012

Para não desaparecer, DEM já admite fusão

BRASÍLIA - A sala da liderança do Democratas na Câmara tem apenas uma foto na parede. É de Luís Eduardo Magalhães. Filho de Antonio Carlos Magalhães e ex-presidente da Câmara, Luís Eduardo simboliza um tempo que o partido não gosta de esquecer. Modernizador, carismático, poderoso, ele foi preparado longamente para levar o então PFL de volta ao poder central. Em 1998, iria para o governo da Bahia. Nos planos no PFL, em 2002 estaria pronto para chegar ao Palácio do Planalto com auxílio do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas no dia 21 de abril de 1998, um infarto fulminante levou Luís Eduardo e, com ele, as esperanças de toda uma geração do partido.

Desde então, uma espécie de maldição parece pairar sobre o partido - rebatizado em 2007 como Democratas, ou DEM. Rosena Sarney, Cesar Maia, José Roberto Arruda e agora Demóstenes Torres. Todos nomes cotados, em maior ou em menor grau, para disputar a Presidência da República. Todos, por motivos diversos, abatidos antes mesmo do início da campanha.

Do luto de Luís Eduardo ao de Demóstenes, passaram-se 14 anos. Neste período, o partido deixou de ser governo e viu sua bancada que era de 105 deputados encolher para 27. E, pior, disseminou-se entre os correligionários uma discussão impensável para o outrora maior partido do país: o caminho para o DEM é a fusão a um grande partido?

Na última semana, O GLOBO ouviu 23 dos 31 parlamentares da legenda. Entre eles, 74% são contra a fusão hoje. Mas, a opinião disseminada é que a medida pode tornar-se inevitável, dependendo do resultados das eleições deste ano. Metade dos ouvidos opinou sobre a possibilidade de uma fusão. O PMDB foi o partido preferido, com 50% dos votos, o dobro do PSDB.

Partido espera manter fundo de R$ 5,4 milhões
Além das eleições, nos próximos meses outro fator pesará na definição do futuro da legenda. O TSE julgará em breve se o DEM terá o direito de manter o tempo de televisão e o valor do fundo partidário proporcional à bancada que elegeu em 2010 ou se perderá parte deles para o recém-criado PSD — o partido de Gilberto Kassab que tomou 16 deputados da legenda.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, manifestou-se na última semana a favor do DEM. Caso o TSE concorde com a PGR, o partido continuará tendo um papel importante na definição de alianças partidárias nas eleições deste ano e na de 2014 — tem a oferecer preciosos minutos de propaganda na TV e um bom naco do fundo partidário.
Com base na bancada de 43 deputados federais que elegeu em 2010, o DEM receberá este ano do fundo partidário cerca de R$ 5,4 milhões, valor semelhante ao que será destinado ao PSDB e menos da metade do que recebe o maior partido (PT), R$ 12,2 milhões.
Os líderes do partido se fiam nessa expectativa positiva para manter viva a esperança de sobrevivência.

- O gado foi embora, mas ficamos com as benfeitorias da fazenda - comentava recentemente o ex-deputado federal José Carlos Aleluia (BA) em conversa com amigos no Congresso.
Partido não esconde mágoa com tucanos
Na hipótese de o Tribunal Superior Eleitoral dar ganho de causa ao PSD, repassando ao partido do prefeito Gilberto Kassab os minutos de TV e os milhões de reais, o debate sobre fusão tende a ser antecipado. Aí sobrevém um outro problema para a legenda: que caminho seguir.

Dentro do DEM há nitidamente uma mágoa acentuada com o PSDB, aliado preferencial das últimas cinco eleições presidenciais. Os Democratas se queixam que não têm sido respeitados como deveriam. Prova disso é que na enquete feita pelo GLOBO na última semana, o PMDB foi de longe o partido preferido em caso de fusão, obtendo o dobro de votos do PSDB.

- Ir para o PSDB é ser praticamente engolido. Não dá. Eles são fominhas. Mas o PMDB é um partido malvisto, com fama de fisiológico - diz o deputado Júlio Campos (MT), diagnosticando a encruzilhada democrata.

Campos refere-se às dificuldades que o DEM encontra para obter apoio dos tucanos. O DEM lidera as pesquisas em Salvador com o deputado ACM Neto e disputa a liderança em Recife, com Mendonça Filho. Apesar de os nomes do PSDB terem nessas cidades intenções de voto muito inferiores às dos democratas, os tucanos até agora não aceitaram fechar aliança. O quadro se repete Brasil afora.

- O problema hoje é que o PSDB não nos valoriza. Por isso há quem defenda hoje a aproximação com o PMDB. É preciso definir se essa é ou não é uma aliança, que implica em um partido ajudar o outro - afirma o deputado Rodrigo Maia, ex-presidente da sigla e candidato à prefeitura do Rio. - O nosso negócio é nos sentirmos parte do projeto majoritário do Aécio, como não nos sentimos no do Serra.

Uma prova do grau de preocupação da legenda com a disputa eleitoral deste ano é o fato de quase todo parlamentar da sigla saber na ponta da língua grandes cidades onde são favoritos: Salvador, Aracaju, Macapá, Mossoró, Feira de Santana, Caruaru e Vila Velha. Como herdeiro do velho gigante da ditadura, o DEM sabe que sem governos, não há quem resista.

- Há um grupo de parlamentares que, mesmo tendo ficado na oposição, se sente ameaçado. O senso crítico no Brasil passou a ser crime - avalia o democrata goiano Ronaldo Caiado.


Paulo Celso Pereira e Isabel Braga, O Globo

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