Um fantasma do passado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a assombrá-lo com a volta da jornalista Miriam Dutra – com quem o tucano teve relacionamento extraconjugal nos anos 1980 e 1990 – ao noticiário.
Despachada para a Europa depois que engravidou, Mirian agora reaparece e, em entrevista à Folha de S.Paulo, revela que a empresa Brasif S.A.Exportação e Importação ajudou FHC a enviar recursos ao exterior para custear gastos dela e do filho, Tomás Dutra, com quem o ex-presidente mantém relacionamento paternal.
Segundo Miriam, as transferências foram feitas por meio de contrato fictício de trabalho celebrado em dezembro de 2002 e com validade de quatro anos. A contratante que aparece nos registros da contratação é a empresa Eurotrade Ltd., cuja sede a Brasif mantém nas Ilhas Cayman.
De acordo com o contrato, a jornalista Mirian, ex-funcionária da Rede Globo de Televisão, ficaria responsável por executar “serviços de acompanhamento e análise do mercado de vendas a varejo a viajantes”, além de fazer prospecções “tanto em lojas convencionais como em duty free shops e tax free shops” em países europeus. Tais informações deveriam ser repassados à Brasif, que naquela época explorava free shops – lojas com isenção de impostos – em aeroportos brasileiros.
Segundo o jornal paulista, FHC admitiu ter bancado Mirian e Tomás em países da Europa e possuir contas bancárias no exterior, mas disse que não usou a estrutura da Brasif para sustentar os dois.
Serviço não prestado
Apesar das designações de função postas em contrato, Mirian afirma que “jamais pisou” em uma loja, duty free ou não, para trabalhar. Ela declarou ainda que a remuneração mensal acertada no contrato, de US$ 3 mil, serviu para complementar a renda familiar.
“Eu trabalhava na TV Globo e tive um corte de 40% no salário em 2002. Me pagavam US$ 4 mil. Eu estava superendividada, vivia de cartão de crédito e fazendo empréstimo no banco. Me arrumaram esse contrato para pagar o restante”, declarou a jornalista, segundo a Folha, acrescentando que o acerto foi mediado pelo também jornalista e lobista Fernando Lemos, que foi casado com Margrit Dutra Schmidt, irmão de Mirian.
“Ele [Fernando Lemos] disse que tinha de arrumar um jeito de melhorar a minha vida financeira, já que eu tinha uma hipoteca [de apartamento comprado em Barcelona, Espanha] e a Globo tinha cortado meu salário”, acrescenta a jornalista, que recentemente revelou pressões de FHC para que ela dissesse à revista Veja que Tomás era filho de um biólogo.
Mirian afirmou também que o dinheiro enviado ao exterior era de FHC, e não da Brasif. “Ele me contou que depositou US$ 100 mil na conta da Brasif no exterior, para a empresa fazer o contrato e ir me pagando por mês, como um contrato normal. O dinheiro não saiu dos cofres da Brasif e sim do bolso do FHC”, revela Mirian.
O esquema de repasses ao exterior foi confirmado pelo empresário Jonas Barcellos, dono da Brasif, que nega conhecer detalhes do acordo, no entanto. “Tem alguma coisa mesmo, sim. Eu só não sei se era contrato. Vou fazer um levantamento na empresa para esclarecer tudo”, avisou Jonas, que disse estar em Aspen (EUA) e voltará ao Brasil na próxima semana.
ABORTO
À Folha, Mirian disse que FHC sugeriu que ela abortasse Tomás e revelou que realizou dois abortos que foram custeados pelo ex-presidente. Confira trechos da fala da jornalista:
“Eu estava grávida de quase três meses. Eu não estava aguentando mais essa história toda de ser amante, de ser a outra. Aí eu fiquei quieta, esperei ele voltar [de viagem] e, quando voltou, foi jantar na minha casa. Quando disse que estava grávida, ele disse “você pode ter este filho de quem você quiser, menos meu”. Eu falei: “não acredito que estou escutando isso de uma pessoa que está há seis anos comigo”.
(…)
Ele me pediu para abortar. “Eu te pago o aborto agora”, disse. Aliás, vou te contar uma coisa mais séria ainda. Durante os seis anos com ele, fiquei grávida outras duas vezes, e eu abortei.
(…)
Ele pagou. Pagou por dois abortos. Eu não queria ter outro filho, eu tinha minha filha estava muito feliz. Nunca pude tomar pílula, colocar DIU [método intrauterino], porque tenho um problema de rejeição absoluta a hormônio que venha de fora. Ele sabia disso.
(…)
Aí que, pela primeira vez, em seis anos, ele deixa de falar comigo. Porque sentiu que a decisão era firme. Aí eu disse que não tinha que contar para ninguém quem era o pai, que era livre e desimpedida.
Questionada sobre as razões de só agora reaparecer a fazer as revelações, Mirian diz: “Eu não quero morrer amanhã e tudo isso ficar na tumba. Eu quero falar e fechar a página. E quero tentar ser feliz, porque eu não consegui até hoje”.
DNA
Nas décadas de 1980 e 1990, quando FHC despontou nacionalmente na política, ele e Mirian tiveram um caso extraconjugal – o ex-presidente sempre foi casado do Dona Ruth Cardoso (1930-2008). Na época, Mirian engravidou e, desde então, rumores sobre a possibilidade de o ex-presidente ser o pai da criança se multiplicaram. Há mais ou menos 30 anos, um filho fora do casamento poderia significar uma ameaça aos planos de ascensão do tucano à Presidência da República, e então ele pediu que a TV Globo a transferisse para Portugal.
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